Mais um dia
a televisão ligada em uma série tão cansada, em frente aos lençóis de casal de uma menina solteira e densa — uma caixa de remédios ao lado da cama, posta sobre uma grande cadeira com rodinhas. estantes de livros não lidos, os lidos ficam no chão. no piso de madeira, também chinelos de dedo, absorventes fechados, meias sem pares, sacolas com caixas de medicamentos que acabaram, cintos. o armário cuspindo roupas, amarrotadas, sufocadas, as usadas ficam na cama, dormindo ao lado, pra isso serve o colchão. os cosméticos abaixo da televisão, numa prateleira solta, rindo por serem esquecidos. a escrivaninha repleta de tudo, livros, lápis, canetas, abajur, fones de ouvido, anticoncepcional, álcool em gel, argolas de orelha, acetona, uma câmera da canon, uma lata de pepsi diet, uma tesoura, papelão. nas paredes, marcas de beijo com batom, prêmios pendurados, DVD’s, quadros, um mural repleto de retratos. na outra estante brincos, bolsas, carregadores, óleos capilares, caixa de lembranças, mais livros, discos antigos, caixinha de música, som de ballet. um mundo inteiro, um mundo perdido, um mundo só de quem vive ali dentro, com tudo contido. um quarto, um dia.
quantos mundos a gente vive num dia só